Maconha na roda

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24 abril 2010

Maconha - liberdade e memória

"Nos momentos de tristeza, de banzo, de saudade da África, os negros tinham ali à mão a liamba, de cuja inflorescência retiravam a maconha que pitavam por um canudo de taquari atravessando uma cabaça de água onde o fumo se esfriava. Os holandeses diziam que esses cachimbos eram feitos com os cocos das palmeiras. Era o fumo da Angola, a planta que dava sonhos maravilhosos..."

Assim o especialista em temas afro-brasileiros, Edison Carneiro, descreve uma situação ocorrida no Quilombo dos Palmares.

Trazida para o Brasil nos navios negreiros, a cannabis se tornou um amuleto na luta pela liberdade (mesmo que em sonhos). Muitas vezes acusada de ser uma maldição dos negros contra os brancos, a planta tem sido apreciada por pessoas das mais diversas origens e contextos sociais. Ela representa a liberdade do pensamento, que jamais podem ser aprisionados. Os corpos podem ser trancafiados, mas as idéias não.

Em resposta à popularidade atingida pela cannabis, em 4 de outubro de 1830, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro, no parágrafo 7o da postura que regulamentava a venda de gêneros e remédios pelos boticários, estabelecia que: "É probida a venda e o uso do pito do pango, bem como a conservação dele em casas públicas. Os contraventores serão multados, a saber: o vendedor em 20$000, e os escravos e mais pessoas, que dele usarem, em três dias de cadeia."

A intensão da lei era coibir a influência de costumes africanos no Brasil recém independente. Muitas outras leis vieram depois desta. Mas a idéia resiste. A tradição africana se espalhou e hoje é um costume para muitos brasileiros brancos, pardos, negros, índios, coloridos, amarelos ... A planta que promove sonhos maravilhosos segue viva e reclama por liberdade.


* Referência Bibliográfica: Mott, Luiz. A maconha na história do Brasil. in Henman, Anthony e Pessoa Jr, Osvaldo. Diamab Sarabamba (coletânea de textos brasileiros sobre a maconha). São Paulo: Editora Ground, 1986

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