A maconha deve ser colocada na roda para podermos conversar sobre ela; para que possamos retirar o peso que a palavra carrega; para acabar com preconceitos; para defender a liberdade de escolhas; para questionar as políticas públicas; e também para fumar...
Nós, brasileiros, precisamos muito repensar a maneira em que se dá a relação entre os diversos segmentos da população. E não estamos falando aqui de classes sociais apenas. Estamos falando da diversidade cultural. A diversidade não existe apenas para fomentar o turismo; para as pessoas da cidade gastarem seu dinheiro em paraísos ecológicos ou localidades históricas; a diversidade deve ser reconhecida para que possamos de verdade aprender a conviver com a diferença. Ninguém é igual a ningúem, mas todos devem ser respeitados em suas qualidades e defeitos peculiares.
Aqui estamos propondo que o Brasil receba de coração aberto o debate sobre as drogas, mais precisamente, sobre a cannabis sativa. Os maconheiros devem ser respeitados em suas qualidades e seus defeitos, como todo mundo. Por que tanta violência contra uma planta que não atinge ninguém diretamente? Precisamos repensar as “verdades” amplamente difundidas. Queremos desenraizar o preconceito, reflexo que é do histórico racismo. Quem fuma não é prejudicado pela sua relação com a diamba (nome pelo qual era chamada a cannabis entre os africanos trazidos para o Brasil. A diamba, ou pito do pango, fazia parte do cotidiano dos escravos e foi proibida em territorio nacional pela primeira vez em 1830, em legislação abertamente racista) ; pelo contário, quem busca a maconha, está em busca de um conforto, seja recreativo, espiritual ou medicinal.
Fumar excessivamente tem efeitos colaterais? Certamente. Não somos ingênuos para negar que a fumaça faz mal. Longe disso. O que queremos é defender a capacidade de discernimento dos cidadãos. Se um sujeito pode votar, porque ele não pode escolher fumar? Muitas pessoas votam em candidatos notoriamente corruptos, mas nem por isto os eleitores são presos quando o seu representante é desmascarado. Então por que um usuário de drogas deve ser punido por sua escolha? Propomos que a sociedade invista na conscientização e na redução de danos.
Queremos discutir a qualidade dos gastos públicos. É verdade que o dinheiro do usuário vai para o traficante e daí para o comércio de armas. Mas é a proibição que faz o dinheiro do consumidor chegar até o mercado armamentista. Pensemos sobre isto! Usuários de drogas são cidadãos, têm direito à saúde pública nos casos de excesso. Mas os casos de excesso (overdoses) são uma exceção no universo das drogas. Principalmente no caso da maconha, não existe sequer até hoje um único registro de morte por causa da cannabis e nem nunca haverá devido ao seu baixo grau de lesividade ao organismo. Se o dinheiro público fosse bem aplicado em educação para instruirmos nossa juventude sobre os mais variados dilemas da atualidade, certamente as preocupações com a violência pública e também com a saúde publica seriam menores. Menos gasto com repressão possibilita mais dinheiro para escolas e hospitais, entre outras prioridades governamentais. Em primeiro lugar a descriminalização do usuário é importante para assegurar a sua cidadania. E, em segundo lugar, a legalização traria como benefício o desmantelamento da organização criminosa. Um maconheiro descriminalizado com sua maconha legalizada não vai mais dar dinheiro para bandido, vai cultivar seu próprio jardim ou estabelecer uma nova relação de clientela com um comerciante legalizado. Pode mesmo acontecer de muitos traficantes, que ingressaram nesta profissão por falta de outra oportunidade, se converterem nesses novos comerciantes. É por isto que estamos propondo o debate! Para questionar a própria organização social. Será que estamos no caminho certo investindo bilhões em helicópteros e armas de última geração para manter uma guerra contra as favelas? Não seria melhor gastar este dinheiro com escolas, livros, arte e bons professores? Por que prender e matar tanta gente se o custo humano e financeiro com os usuários que necessitam de atendimento médico é bem menor do que a fortuna desperdiçada anualmente na guerra contra o tráfico? Aqui estamos propondo que o Brasil mate menos pessoas (entre policiais, traficantes e moradores de comunidades carentes) e, ao contrário, salve mais vidas. Com certeza mais vidas são perdidas no combate às drogas do que são ceifadas pelo uso dela.
Queremos ressaltar que a maconha não é o monstro divulgado pelo pensamento domintante. A cannabis, ao longo da história da humanidade, em diferentes contextos socio-culturais, já foi utilizada como alimento; importante matéria prima para a indústria textil; e também medicamento, por suas ricas propriedades cosméticas e fitoterápicas; além de ser um mecanismo de comunhão espiritual e fonte de prazer. Precisamos colocar a maconha na roda para que ela e seus usuários não sejam para sempre injustiçados como acontece ainda hoje. Por que os maconheiros inspiram medo em muitas pessoas? Simplesmente por falta de informação! Nós estamos aqui, literalmente dando a nossa cara à tapa, para reclamar respeito com a nossa vida, com as nossas escolhas, enfim, com a nossa cultura. Seja rico ou pobre, negro ou branco, hetero ou homossexual, somos parte de uma massa de pessoas que vê a maconha como um amigo, um refúgio, um santuário. Por que os adeptos de outros santuários e outros refúgios espirituais condenam a nossa ligação com a cannabis? Nós exigimos respeito e estamos nos unindo para fazer valer a nossa cidadania contra todo e qualquer preconceito!